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Mensagem de Apresentação

PREVENÇÃO QUATERNÁRIA
                          “PRIMUM NON NOCERE

 
Caros Congressistas,
 
Primum non nocere é o tema central do 18º Congresso Nacional de Medicina Geral e Familiar. Este lema constitui um dos princípios mais importantes da ética médica: acima de tudo não prejudicar. Na linguagem do povo, já que não podes consertar pelo menos não estragues. 
O desejo legítimo de querer preservar a saúde conduziu à falácia que todas as doenças são curáveis se apanhadas precocemente., i.e., mesmo antes delas se manifestarem sintomaticamente.
Tal como na época dos descobrimentos, navegantes e comerciantes com ambições de fácil e rápido enriquecimento, invocavam a missão de evangelização dos indígenas para os explorar e escravizar. Também modernamente a indústria da saúde invoca a necessidade da saúde para condicionar a vida das pessoas e transformá-las em consumidores dos seus produtos.
A moderna medicina preventiva procura, incessantemente com elevado empenho e zelo, a doença na pessoa saudável. Triste incoerência esta, para se ter saúde tem que encontrar-se uma doença. Eis que a medicina preventiva, nos seus limites obsessivos pelo diagnóstico precoce a todo o custo chega a parecer a medicina da inveja. Uma medicina que inveja quem é saudável e, por isso, vê-se a procurar persistentemente uma doença como sentido da sua razão de existir.
Simultaneamente, o “adoecimento” de toda a população conflitua com a prestação de cuidados de saúde a quem realmente deles necessita. Assiste-se a um crescendo gasto de recursos limitados de saúde por falsas doenças e pseudonecessidades que canibalizam os recursos imprescindíveis para a sobrevivência daqueles que realmente deles necessitam. Não está em causa o direito de todos os cidadãos terem os cuidados de saúde que precisam; está sim, em causa, o direito de não terem mais cuidados do que os necessários e evitar cuidados que os prejudicam.
Os rastreios iterativos em qualquer lugar e pelo menor motivo, recebidos pelas populações e pelas instituições como uma bênção, são disso um bom exemplo. Um país, que tem uma cobertura de serviços de saúde praticamente universal, fará sentido haver rastreios seja para o que for? Fazer rastreios de hipertensão, rotulando-se quase mais de metade da população como hipertensa, terá qualquer impacto em ganhos em saúde? A avalanche destes “doentes” nos serviços de saúde, para além da maioria deles terem níveis tensionais para os quais não há evidência de utilidade de tratamentos intensivos, faz com que escasseiem recursos para os doentes que deles realmente precisam e que tudo têm a perder se não forem devidamente acompanhados e tratados. 
Mesmo as próprias instituições de saúde (e estas instituições são feitas pelos profissionais), parecem favorecer as intervenções ditas na comunidade, de efetividade não demonstrada, em detrimento de cuidar os que realmente estão doentes. 
É neste contexto de recursos finitos, mas com exigências ilimitadas de serviços inúteis ou mesmo nocivos, que se insere o 18º Congresso Nacional de Medicina Geral e Familiar defendendo uma medicina com qualidade, em especial com humanização, adaptada às reais necessidades das populações. 
Este Congresso tem um programa cientificamente intenso, deixando pouco tempo para desfrutar a beleza da Serra e da Covilhã. Contudo, fazemos votos para que desfrutem da troca e do confronto de ideias e, sobretudo, da felicidade de reencontrar colegas e amigos que, apesar de tudo o que possa ser apregoado e vendido, são os maiores determinantes de saúde.
 
Pela Comissão Cientifica.
 
José Mendes Nunes

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Última actualização 2014-01-02